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A dependência financeira e a violência moral

Esta é Tereza, mulher linda, delicada, sonhadora. Tereza manteve um casamento abusivo e cheio de violência por anos, ficou viúva com menos de cinquenta anos.



Com a pensão de seu marido, os filhos já casados, ela pode viajar, escolher suas próprias roupas, comprar seus cremes preferidos, ter sua casa, com apenas dois cômodos, mas sempre cheia de plantas, com cheiro de lavanda e feijão com louro (e que feijão!).


Tereza passou dez anos viúva. Casou-se novamente, aliás encontrar um companheiro sempre esteve em seus planos, pois queria alguém com quem pudesse dividir sua vida, alguém que trouxesse leveza e alegria para os seus dias.

Nos primeiros anos de seu segundo casamento, Tereza manteve o recebimento da pensão e tudo ia muito bem, afinal ela tinha condições de dividir as despesas, de proporcionar aos dois uma vida de muita tranquilidade.


Depois de alguns poucos anos de casada, Tereza viu nos noticiários que, mulheres viúvas que tinham se casado pela segunda vez, não poderiam mais receber a pensão do falecido, pois correriam o risco de sofrer sérias consequências com a lei.


No mês seguinte Tereza não foi mais retirar o seu pagamento e abriu mão de sua pensão.


Dali em diante, Tereza tornou-se uma mulher sem condições de manter a casa, passou a ser dependente de seu atual marido, e desde então entendeu que sua vida, mais uma vez, seria pautada na obediência.


Não seria possível comprar um doce sem permissão, não teria direito aos desejos mais simples, pois o dinheiro da casa pertencia ao marido e suas vontades não lhe diziam respeito. "Cospe que a vontade passa!"

Nunca sofreu agressão física, como no primeiro casamento, mas as violências morais, doíam tanto quanto!


Tereza faleceu aos 72 anos, e ao final de sua vida ela fazia bonecas de lã para vender, na tentativa de reencontrar-se com a dignidade.


Eu e Tereza (minha avó materna) dias antes dela falecer, em decorrência de um AVC cerebral.



Certa vez, uma mulher, que acabara de comprar um carro, sentia-se muito mal porque afirmava que aquele carro não havia sido conquistado por ela, mas era um "presente" do marido, pois ela não tinha um trabalho remunerado. Ao escutá-la, percebia o quanto ela estava num conflito entre a alegria do "presente" e a sensação de impotência por não ter sido capaz de realizar suas próprias conquistas. O que eu disse a ela é que se o acordo entre eles era que um sairia para o trabalho remunerado e o outro ficaria em casa com o trabalho doméstico e com a responsabilidade de cuidadora dos filhos e da família, as conquistas materiais eram de ambos, pois os dois trabalharam por isso. Penso que é muito importante que as mulheres compreendam que trabalho doméstico é uma atividade que envolve muitas atribuições e o fato de não ser remunerado está historicamente ligado a uma estrutura convencional do capitalismo, mas esta será a pauta da próxima postagem! Até lá!



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Eu sou Claudia Jordão, autora dos livros "Mulheres que me habitam" e "EU TU ELAS", ambos publicados pela Alpharrabio Edições.

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